sexta-feira, 6 de maio de 2011

PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA - PESQUISA

Na área de pesquisa em psicologia somos levados ao seguinte questionamento: como fazer pesquisas em psicologia?
Com a diversidade de teorias que buscam compreender o ser humano nos indagamos se será possível encontrar uma maneira de realmente desvendar a mente humana. Alguns autores, baseados no empirismo lógico e do construcionismo, trouxeram teorias que buscavam a compreensão do homem através da observação dos fenômenos comportamentais ou através da introspecção. Entretanto são dois caminhos muito criticados.
A percepção é baseada na interação dos estímulos externos com nossos processos cognitivos (seleção, organização e interpretação). Devido a esses processos internos, o que experimentamos em qualquer situação é influenciado pelo que esperamos experimentar. Em casos extremos, nossas percepções podem depender mais da nossa interpretação do que do estimulo real.
Na área da psicologia, os psicólogos também são dependentes dos processos de seleção e de interpretação perceptuais, tendo isso refletido nos diferentes pressupostos e métodos que são centrais as várias abordagens. De acordo com Sigmund Koch:


                                                            “diferentes teóricos – com relação a seus diferentes propósitos analíticos, objetivos preditivos ou práticos sensibilidades perceptuais, competências formadoras de metáforas e repertório de discriminação preexistentes – farão recortes perceptuais assistematicamente diferentes no mesmo domínio” (Koch, 1985, p.93).

As teorias são construídas de acordo com o interesse de seus autores, ou melhor, são embasadas no seu modo subjetivo de observar o mundo e se distingue de um modelo neutro, científico de apreensão e elaboração das idéias.
Surge dai o questionamento: qual a veracidade das teorias científicas?
Um ponto que influência radicalmente na elaboração de teorias em ciência são os paradigmas. Na visão de Kuhn, um paradigma é essencialmente uma estrutura arbitrária para descrever o mundo e está é uma visão que tem sido aplicada com frequência em psicologia. Consideremos um Behaviorista e um Humanista diante da expressão “estou deprimido”; para o primeiro essa é uma expressão verbal que fora previamente reforçada, enquanto que para o segundo, é uma descrição válida de um estado emocional interno.
Como vemos a Psicologia nunca teve um paradigma único, ela tem vários concorrentes, no entanto, nenhum deles desfrutando de um completo domínio. Com o tempo, as abordagens variaram em seu nível de aceitação, e é interessante observar as mudanças em sua relativa popularidade enquanto paradigmas. A visão mais amplamente aceita é que a psicologia precisa lidar tanto com o comportamento quanto com a experiência.
Thomas Kuhn (1970), citado por Glassman, W.E. Hadad, M (2008), descobriu que aprender uma ciência é aprender a resolução de seus problemas por meio de exemplos paradigmáticos. Assim, o ensino da Física ou Matemática, se faz não apenas com o conhecimento das teorias, mas por meio da construção de "exemplos de resolução"- de problemas- que nos servem para a resolução de um conjunto de problemas semelhantes. O autor faz uso freqüente de "modelos de resolução" de problemas supondo que eles servirão para a resolução de problemas mais ou menos semelhantes - esses modelos são "paradigmáticos". Mas há problemas que parecem não se "encaixarem" no modelo de resolução, porque são anômalos ou seguem outro modelo. Aí verificamos que os modelos de resolução são paradigmas não só para resolução, mas também para "unificar" uma série de exemplos de problemas e, ao mesmo tempo, identificar os que não seguem o modelo.
O livro “A Psicologia tem Paradigmas?” de Iray Carone (2003) relata que a teoria de Kuhn mudou bastante nos anos 90, a tal ponto que ele abandonou pelo menos parcialmente o conceito original de "paradigma", preferindo a expressão "léxico taxonômico" a falar de "revoluções científicas" a partir de mudanças lingüísticas numa parte fundamental desse léxico. Diríamos que houve um "linguistic turn" em sua teoria, ou seja, uma ênfase no aspecto lingüístico das mudanças numa ciência. Assim, por exemplo, a Bioquímica é uma mudança do léxico taxonômico tanto da Biologia como da Química, por causa de uma nova ordem de fenômenos não-classificáveis tanto por uma quanto pela outra. É um novo broto da árvore evolucionária das ciências, o filho que nasceu da Biologia e da Química e que não se identifica mais com ambas. Isso se reflete na formação de uma nova comunidade científica e também de novos departamentos científicos nas universidades, nas revistas especializadas, nas sociedades científicas, etc. Assim, um biólogo pode não entender fenômenos bioquímicos com os seus instrumentos lexicais assim como um químico entender, por exemplo, a cadeia de fenômenos fisiológicos que ocorrem no corpo após a ingestão de um composto químico.
A ciência tem duas limitações quando se trata de lidar com a experiência interna.
Uma limitação envolve a busca da ciência por explicações causais. A incapacidade da ciência de proporcionar insights que sejam rigorosos e importantes ao mesmo tempo deve-se, em grande parte, à maneira como a ciência opera. Lidar com muitos fenômenos nas ciências naturais encontra dificuldades quando aplicados na psicologia.
A principal dificuldade é que os estados mentais não são diretamente observáveis, e nem eles, nem os comportamentos utilizados para indicá-los, podem ser associados unicamente a causas específicas. O resultado é com freqüência uma espécie de circularidade: a experiência interna é usada para explicar o comportamento que pretende indicar a experiência interna. A experiência subjetiva nunca pode ser traduzida diretamente no comportamento objetivo.
A segunda limitação diz respeito ao uso do método experimental. A lógica dos experimentos com sua necessidade de controle estrito e de suposições de objetividade enfrenta dificuldades quando aplicada ao comportamento complexo.
A principal dificuldade é que os seres humanos estão conscientes de estar sendo estudados, o que dificulta a obtenção de uma avaliação objetiva do comportamento. Como resultado, os pesquisadores reconhecem que os indivíduos que participam de uma pesquisa psicológica são capazes de interpretar dinamicamente a situação – a realidade é a reatividade, não a objetividade.
Não se deve perder de vista as realizações da psicologia, mesmo que se restrinja a avaliação para simplesmente observar o comportamento e catalogar os resultados, havendo um acumulo de informações. Quando nosso entendimento é incompleto, pode-se dizer que a psicologia aumentou nossa consciência das possibilidades.
Estamos vivendo em um mundo com problemas complexos como crescimento da população, degradação ambiental e conflito entre nações e culturas. Ao mesmo tempo nossas tradições intelectuais também estão sendo questionadas. Embora há muito a ciência venha se baseando na premissa de que o conhecimento pode operar os objetivos absolutos, essa visão tem sido desafiada por conceitos de conhecimento como uma construção social.

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