quinta-feira, 9 de junho de 2011

A PSICOLOGIA EM PERSPECTIVA

ALBUQUERQUE, T.; BARBOZA, C.; JUREMEIRA, R.; MARQUES, F.


1 INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos e o amadurecimento da ciência psicologia podemos perceber uma crescente necessidade de mudar nossas visões acerca dos métodos. O ser humano permanece uma incógnita e está longe de ser totalmente compreendido.
O presente trabalho nasce deste anseio e visa apresentar novas perspectivas e abordagens que ampliam nosso modo de pensar nos questionando sobre o modelo atual de se fazer ciência.


2. OBJETIVOS

Este trabalho tem por objetivo proporcionar um maior entendimento da problemática que enfrentam os pesquisadores em psicologia, bem como apresentar novas perspectivas de visão para pesquisas compreensões na área.




CRÍTICA À CIÊNCIA PSICOLOGIA

Analisando o capitulo seis do livro Psicologia de WILLIAN E. G. M.HADAD (2008) no transcurso da história da Psicologia percebe-se a preocupação com uma análise da filosofia da ciência, para com isso compreender a repercussão, na configuração da psicologia, das transformações ai operadas. A crise do positivismo lógico e a conseqüente revisão dos pressupostos que constituíam o suporte da análise da atividade científica possibilitaram, a partir da década de 1970, o acolhimento de diferentes propostas já não tão fiéis às crenças na atividade racional, na objetividade e na existência de um único método a ser seguido pelas "ciências". Os determinantes históricos e sociais começavam a ter relevância no desenvolvimento da atividade científica. A crise do positivismo lógico teve também sua repercussão na sociologia da ciência, de forma especial com a contribuição do pensamento de Kuhn, destacando a consideração dos métodos de validação do conhecimento científico ao lado dos fatores históricos e sociais. Na psicologia deu-se a relevância das correntes que iriam questionar a adequação do método científico, numa alusão clara à prisão a que estiveram submetidas quando do domínio do positivismo lógico. Entretanto, no território da psicologia elas não ficaram restritas a isso, como bem comprovam as perspectivas trazidas com a cognição social, e também contribuições sobre as relações intergrupais e sobre as representações sociais.
"A psicologia, cuja pretensão inicial foi o estudo científico da mente, teve que assumir de súbito que a mente humana não surge nem se desenvolve num vazio social, se não que é produto da interseção da pessoa dentro de uma coletividade. O mesmo se pode dizer da conduta individual. A sociologia, por sua parte, que surgiu com a pretensão de converter-se no estudo científico da sociedade, tampouco pode ignorar em suas análises a existência de fatores psicológicos ou individuais que influem no comportamento social". (Álvaro & Garrido, 2004, p. 7).
Sartre (1905 – 1980) fez uma importante crítica à psicologia que questionando seus métodos e teorias da época. Na sua visão “os psicólogos não se dão conta, com efeito, de que é tão impossível atingir a essência amontoando os acidentes quanto à unidade acrescentando algarismos à direita de 0,99” (SARTRE, 2006, p. 17). Na sua visão, para compreender, de fato, o ser humano é necessária uma visão além da introspecção psicanalítica e da observação estatística behaviorista.
Glassman e Hadad (2008) concordam com Sartre, afirmando que a problema está no método científico, pois o mesmo tem falhado em fornecer insights importantes e rigorosos e sugerem duas limitações: a busca por explicações causais e a busca de um método experimental adequado. Sobre a primeira, é importante ressaltar que em psicologia se tem uma grande dificuldade, apesar de funcionar bem com as ciências naturais, entretanto os estados mentais não são observáveis e nos deparamos com o paradigma sentimento – comportamento. Sobre a segunda, se torna dificílimo controle e suposições objetivas das lógicas experimentais sobre comportamentos complexos, além de que quando os sujeitos a serem avaliados estão cientes dessa avaliação eles também se tornam avaliadores da situação.
Após a “revolução cognitiva”, que houve na segunda metade do século XX, uma nova maneira de se estudar o ser humano foi pensada, havia esta necessidade, pois os as escolas até então apresentavam uma explicação parcial e incompleta do homem. Houve uma valorização englobando outros aspectos. Nas palavras de Cunha (2008, p. 19):
“Desse modo, a estratégia da avaliação comportamental foi abdicando da simples identificação de comportamentos-alvo, perfeitamente distinguíveis e observáveis, mas numa abordagem muito idiossincrásica, para começar a incorporar modalidades cognitivas e, mesmo, afetivas, apesar das fortes objeções iniciais”.
Para com isto, houve uma tendência a mesclar diversas abordagens de forma a conseguir integrar também o conhecimento sobre o ser humano, entretanto ainda sim falta algo.
Juntando a visão fenomenológica de Husserl, proclamando a necessidade de ir “às coisas mesmas”, ou seja, buscar a essência a priori, e a idéia de “por o mundo entre parênteses” de Heidegger, elucidando a essência transcendental da realidade, o “nós mesmos”, Sartre propõe sua visão de como uma psicologia, igualmente justa com seus propósitos, deverá ser. Sartre diz que os psicólogos devem ir além de sua visão de mundo. Se o campo de estudo da psicologia é o ser humano e se bem o somos, então nosso material de pesquisa se faz presente em nós mesmo. O psicólogo deve investigar-se observando a si próprio levando em consideração que possui acesso ao modelo completo de sua psique e pode muito bem compreender os fatos interiores em sobreposição aos comportamentos derivados dessa interação e todos os seus derivados.
Este anseio de Sartre está ligado a modelos não muito bem aceitos pela ciência tradicional que busca uma resposta exata, mundo esse abalado pela teoria da relatividade de Einstein. Entretanto tanto a teoria do caos quanto a abordagem sistêmica sugerem novas formas de se fazer ciência e são alternativas que se encaixam nas idéias de Sartre. O primeiro modelo diz que muitos sistemas físicos não são lineares, ou seja, não seguem um padrão lógico de acontecimentos, pois uma pequena mudança em suas condições inicias podem provocar diferenças radicais nos resultados. O segundo modelo sugere que uma pessoa funciona como um sistema ao passo que é constituída de diversos elementos. Esta funciona basicamente por dois processos: o feedback negativo que mantem a estabilidade no sistema, ou seja, não sofre modificações no seu padrão mantendo-o linear, e o feedback positivo adiciona elementos fazendo com que seja modificado o comportamento (GLASSMAN e HADAD, 2008).
De qualquer forma a psicologia, e a ciência como um todo, esta passando por um período de revoluções e novas perspectivas estão sendo proposta em resposta a dificuldade de se compreender o ser humano e o mundo como um todo.

4. RECONSIDERANDO AS ABORDAGENS

4.1 A Percepção e a Formação da Teoria

A percepção é baseada na interação dos estímulos externos com nossos processos cognitivos (seleção, organização e interpretação). Devido a esses processos internos, o que experimentamos em qualquer situação é influenciado pelo que esperamos experimentar. Em casos extremos, nossas percepções podem depender mais da nossa interpretação do que do estimulo real. A realidade que vivemos é individualmente construída.
Na área da psicologia, os psicólogos também são dependentes dos processos de seleção e de interpretação perceptuais, tendo isso refletido nos diferentes pressupostos e métodos que são centrais as várias abordagens. De acordo com Sigmund Koch, “diferentes teóricos – com relação a seus diferentes propósitos analíticos, objetivos preditivos ou práticos sensibilidades perceptuais, competências formadoras de metáforas e repertório de discriminação preexistentes – farão recortes perceptuais assistematicamente diferentes no mesmo domínio” (Koch, 1985, p.93).
Todos os teóricos, tendo interesses e expectativas diferentes, perceberão o mundo a sua própria maneira e desenvolverão suas teorias de acordo com sua percepção. A origem de qualquer abordagem depende de processos que são em parte subjetivos. A falta de visão subjetiva para entender esses processos se denomina patologia cognitiva, e está refletida em práticas como fazer suposições simplificadas que conduzam as restrições naquilo que se observa e depois desenvolver uma “total amnésia” daquelas suposições e restrições. (Glassman, W.E. Hadad. 2008)

4.2 Evidencia Objetiva X Mudança dos Paradigmas

O Empirismo Lógico trata do pressuposto de que é possível comparar e avaliar as teorias em termos de como elas podem considerar as evidencias. Este princípio é uma extensão da crença que estabelece que observar o mundo é uma maneira de conhecimento. Não se trata de um resultado possível, porém, não é inevitável aceitar a importância das observações. Nesta perspectiva, as teorias são avaliadas e aceitas ou descartadas, segundo o peso das evidencias.
O Construcionismo é a idéia de que a formação e a avaliação das teorias são fundamentalmente influenciadas pelos processos sociais, não pelas evidencias empíricas. A principal interpretação alternativa de por que as teorias são aceitas parte daqui. No construcionismo a ciência atua em termos de paradigmas, ou seja, em vez de ser simplesmente uma teoria, um paradigma representa toda uma maneira de ver o mundo.

4.3 Os Paradigmas na Psicologia

A Psicologia nunca teve um paradigma único, ela tem vários concorrentes, no entanto, nenhum deles desfrutando de um completo domínio. Com o tempo, as abordagens variaram em seu nível de aceitação, e é interessante observar as mudanças em sua relativa popularidade enquanto paradigmas. A visão mais amplamente aceita é que a psicologia precisa lidar tanto com o comportamento quanto com a experiência.
Thomas Kuhn (1970), citado por Glassman, W.E. Hadad, M (2008), descobriu que aprender uma ciência é aprender a resolução de seus problemas por meio de exemplos paradigmáticos. Assim, o ensino da Física ou Matemática, se faz não apenas com o conhecimento das teorias, mas por meio da construção de "exemplos de resolução"- de problemas- que nos servem para a resolução de um conjunto de problemas semelhantes. O autor faz uso freqüente de "modelos de resolução" de problemas supondo que eles servirão para a resolução de problemas mais ou menos semelhantes - esses modelos são "paradigmáticos". Mas há problemas que parecem não se "encaixarem" no modelo de resolução, porque são anômalos ou seguem outro modelo. Aí verificamos que os modelos de resolução são paradigmas não só para resolução, mas também para "unificar" uma série de exemplos de problemas e, ao mesmo tempo, identificar os que não seguem o modelo.
O livro “A Psicologia tem Paradigmas?” de Iray Carone (2003) relata que a teoria de Kuhn mudou bastante nos anos 90, a tal ponto que ele abandonou pelo menos parcialmente o conceito original de "paradigma", preferindo a expressão "léxico taxonômico" a falar de "revoluções científicas" a partir de mudanças lingüísticas numa parte fundamental desse léxico. Diríamos que houve um "linguistic turn" em sua teoria, ou seja, uma ênfase no aspecto lingüístico das mudanças numa ciência. Assim, por exemplo, a Bioquímica é uma mudança do léxico taxonômico tanto da Biologia como da Química, por causa de uma nova ordem de fenômenos não-classificáveis tanto por uma quanto pela outra. É um novo broto da árvore evolucionária das ciências, o filho que nasceu da Biologia e da Química e que não se identifica mais com ambas. Isso se reflete na formação de uma nova comunidade científica e também de novos departamentos científicos nas universidades, nas revistas especializadas, nas sociedades científicas, etc. Assim, um biólogo pode não entender fenômenos bioquímicos com os seus instrumentos lexicais assim como um químico entender, por exemplo, a cadeia de fenômenos fisiológicos que ocorrem no corpo após a ingestão de um composto químico.







PSICOLOGIA E CIÊNCIA

5.1 Uma nova Metodologia

Nossa experiência como seres humanos nos leva a inquirir sobre as causas do comportamento. Na vida cotidiana geramos essas explicações constantemente, invocando nossas noções individuais e coletivas.
A ciência, incluindo a psicologia, com freqüência acusa essas noções de não serem na verdade, explicações, mas simplesmente generalidades confusas. Dizer que as explicações cotidianas das pessoas não têm valor em si, não aumenta o entendimento – e entender a experiência humana é precisamente o que as pessoas estão buscando.
A ciência tem duas limitações quando se trata de lidar com a experiência interna.
Uma limitação envolve a busca da ciência por explicações causais. A incapacidade da ciência de proporcionar insights que sejam rigorosos e importantes ao mesmo tempo deve-se, em grande parte, à maneira como a ciência opera. Lidar com muitos fenômenos nas ciências naturais encontra dificuldades quando aplicados na psicologia.
A principal dificuldade é que os estados mentais não são diretamente observáveis, e nem eles, nem os comportamentos utilizados para indicá-los, podem ser associados unicamente a causas específicas. O resultado é com freqüência uma espécie de circularidade: a experiência interna é usada para explicar o comportamento que pretende indicar a experiência interna. A experiência subjetiva nunca pode ser traduzida diretamente no comportamento objetivo.
A segunda limitação diz respeito ao uso do método experimental. A lógica dos experimentos com sua necessidade de controle estrito e de suposições de objetividade enfrenta dificuldades quando aplicada ao comportamento complexo.
A principal dificuldade é que os seres humanos estão conscientes de estar sendo estudados, o que dificulta a obtenção de uma avaliação objetiva do comportamento. Como resultado, os pesquisadores reconhecem que os indivíduos que participam de uma pesquisa psicológica são capazes de interpretar dinamicamente a situação – a realidade é a reatividade, não a objetividade.



5.2 Psicologia e Cultura

Segundo Smith e Bond (1999) citado por GLASSMAN, W.E. HADAD (2009) a cultura pode ser definida de muitas maneiras, mas um aspecto que é parte da maioria das definições é que se trata de um conjunto de significados compartilhados dentro de um grupo. A cultura é importante devido a seus efeitos sobre as observações que fazemos e como interpretamos. Pessoas de diferentes culturas nem sempre reagem da mesma maneira a situações semelhantes. Se só se faz observações em uma única cultura, é possível que involuntariamente se supergeneralize sobre os resultados.
Reconhecer as diferenças culturais é cada vez mais importante em termos de ética profissional, embora implementar isso seja mais difícil na prática do que na teoria (Rice e O’Donohue, 2002)citado por Glassman, W.E. Hadad, M (2008).
Como comentou Pittu Laungani (2002) citado por Glassman, W.E. Hadad, M (2008), a aplicação da metodologia tradicional corre o risco de supersimplificar a natureza da cultura; em vez de enxergar a cultura como um contexto ecológico do comportamento, a reduz a apenas mais uma variável que afeta o comportamento. Essa critica sugere que analisar o comportamento em termo das diferenças culturais pode muito bem distorcer os processos subjacentes.


6. PLURALISMO

As fontes do pluralismo intelectual estão claramente relacionadas com o pós-modernismo, que se evidencia numa cultura sem os seus absolutos. O modernismo capitulou diante do pós-modernismo. Com este último, houve um colapso geral da confiança no Iluminismo, no poder da razão para proporcionar os fundamentos para um conhecimento universalmente válido do mundo, incluindo Deus. A razão falha em libertar a moralidade correspondente ao mundo real no qual vivemos. E com este colapso da confiança nos critérios universais e necessários da verdade, têm florescido o relativismo e o pluralismo.  Todas as pessoas podem ter as suas próprias idéias com respeito a um fato. Ninguém pode reivindicar exclusividade de verdade na sua interpretação.
O pós-modernismo afirma que a linguagem não pode expressar verdades a respeito do mundo de um modo objetivo. A linguagem, por sua própria natureza, dá forma ao que pensamos. Visto que a linguagem é uma criação cultural, o significado é, em última análise, uma construção social.  Os valores do pós-modernismo não são pessoais, mas sociais, da cultura. O verdadeiro significado das palavras é parte de um sistema fechado de uma cultura, que não faz sentido para uma outra cultura. (GLASSMAN, W.E. HADAD. 2008)



7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se deve perder de vista as realizações da psicologia, mesmo que se restrinja a avaliação para simplesmente observar o comportamento e catalogar os resultados, havendo um acumulo de informações. Quando nosso entendimento é incompleto, pode-se dizer que a psicologia aumentou nossa consciência das possibilidades.
Estamos vivendo em um mundo com problemas complexos como crescimento da população, degradação ambiental e conflito entre nações e culturas. Ao mesmo tempo nossas tradições intelectuais também estão sendo questionadas. Embora há muito a ciência venha se baseando na premissa de que o conhecimento pode operar os objetivos absolutos, essa visão tem sido desafiada por conceitos de conhecimento como uma construção social.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ÁLVARO, J. L. & GARRIDO, A. Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas. Madrid: 2004.
CARONE, I. A Psicologia tem paradigmas? FAPESP. São Paulo. 2003.
GLASSMAN, W.E. HADAD, M. Psicologia: abordagens atuais. 4.ed. Porto Alegre: Artmed,2008.
CUNHA, Jurema Alcides; Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SARTRE, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Porto Alegre: L&MP, 2006.

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